Bandas de rock se unem para pagar tratamento de jovem tetraplégico Tetraplégico após um acidente, Everton de Freitas voltou a ter esperança de se reabilitar. Por iniciativa do vocalista Bruno Siqueira, bandas de rock de Brasília organizam shows e revertem a renda para o rapaz ter acesso a um tratamento
Era setembro de 2006. O sol forte convidava a um mergulho no rio de água limpa, em um sítio de Goiás. A natureza era um chamado irrecusável para a diversão. O gerente de papelaria Everton de Freitas, à época com 32 anos, estava de férias. Preparou-se para nadar. A profundidade do córrego, porém, não correspondia às expectativas do rapaz. Um ato simples mudou a vida de Everton drasticamente, deixando-o tetraplégico. O impacto contra o solo comprimiu sua medula e espalhou a sensação de choque pelo corpo.
No mesmo mês e ano, em Brasília, surgia a banda de rock Oldeighty, invenção de jovens da idade de Everton, que não o conheciam. Enquanto o acidentado iniciava o tratamento e buscava motivos para continuar a gostar da vida, os músicos dedicavam-se à carreira artística, tocando em bares da cidade, cheios de planos e esperança no futuro. Os personagens dessas duas histórias tão diferentes não imaginavam, mas o destino se encarregaria de uni-los na diversão e na dor.
Em 2011, Everton, morador de Águas Claras, foi a um show da Oldeighty, no América Rock Club, em Taguatinga Sul. Os banheiros destinados ao público da casa ficam no andar superior. Portanto, ele podia usar os do camarim, no piso térreo. Entre uma ida e outra, o cadeirante conheceu os integrantes da banda. O vocalista do grupo, Bruno Siqueira, quis saber por que o novo amigo precisava da cadeira de rodas. Everton relatou o acidente. “Eu estava sóbrio, ao contrário do que muita gente pode imaginar. Só queria nadar no córrego. Segundos depois, não conseguia mexer nenhuma parte do meu corpo”, lembra.
Expôs também sonhos. O maior entre eles: fazer um tratamento fora do comum, indisponível em Brasília, somente em São Paulo, pelo Projeto Caminhar (leia Para saber mais). Com esse objetivo, havia criado um blog e fazia mobilização na internet, no endereço www.keepwalkingeverton.blogspot.com. O nome do site quer dizer “Continue andando, Everton”. “Os tratamentos convencionais oferecem aceitação e não reabilitação. Forçam o paciente a simplesmente se acostumar. Eu sempre quis mais, sempre acreditei na minha recuperação total.”
Diante dos relatos, Bruno criou a iniciativa intitulada Rock for Everton. Desde então, a cada dois meses, bandas de Brasília fazem apresentações beneficentes para arrecadar dinheiro destinado ao tratamento. Com essa atitude, o sonho tornou-se possível. Desde o fim de 2011, Everton frequenta, no Riacho Fundo, o Projeto Caminhar, filial do Project Walk, centro de recuperação de lesão medular, fundado na Califórnia. A técnica chegou ao DF há menos de um ano.
O plano distante tornou-se realidade a passos miúdos. Everton conta: “Meu objetivo caminhou para perto de mim. No início, a ideia era ir para o exterior. Isso era inviável financeiramente. Depois, abriram uma filial do Caminhar em São Paulo. A Fernanda, uma garota que também perdeu os movimentos, trouxe esse tratamento para o Brasil. Tempos depois, a Karen, outra cadeirante aqui de Brasília, implantou o projeto no Riacho Fundo”.
Cada hora de fisioterapia especial custa R$ 115. Everton vai à clínica às segundas, quartas e sextas-feiras. As sessões duram duas horas. São R$ 690 por semana, cerca de R$ 2,7 mil mensais. Tudo pago com dinheiro vindo do rock. Inclusive a companhia em tempo integral de um amigo de infância, Clovis Coelho Rodrigues. De colega, ele passou a cuidador. “Não posso pagar um salário, mas nós nos ajudamos”, diz Everton.
Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens. Entrar no universo do jornalismo significa ver essa batalha por dentro, desvendar o mito da objetividade, saber quais são as fontes, discutir a liberdade de imprensa no Brasil.

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